19 junho, 2025

Algoritmos, bolhas e a construção da verdade



Publicado em: 19 de junho de 2025
Por: Cláudia Mendonça - Professora de Sociologia e idealizadora do blog Sociologia no ENEM

O que é bolha informacional?

Você já ouviu alguém dizer: “Não sei como esse político foi eleito, ninguém que eu conheço votou nele!”? Essa sensação pode ser explicada pelas chamadas bolhas informacionais.

Elas são criadas quando os algoritmos das redes sociais filtram o conteúdo que aparece no nosso feed, nos mostrando apenas opiniões parecidas com as nossas. O resultado? Uma falsa sensação de unanimidade e de que todo mundo pensa igual a você.

Esse fenômeno empobrece o debate e torna o diálogo mais difícil, alimentando a intolerância e a polarização.

O papel dos algoritmos na construção da realidade

Os algoritmos decidem o que você vê e o que você não vê. E isso influencia:

  • As notícias que você consome

  • Os temas sobre os quais você pensa

  • A maneira como você interpreta os fatos

Com base no seu comportamento digital (curtidas, tempo de leitura, buscas), as plataformas “adivinham” seus interesses e ajustam o conteúdo — mas sem transparência ou controle.

Isso interfere na sua percepção da realidade, já que as redes podem reforçar crenças pré-existentes e isolar visões divergentes.

Isso afeta a democracia?

Sim. Quando vivemos em bolhas digitais e consumimos apenas informações “filtradas”, corremos o risco de:

  • Acreditar em meias-verdades ou fake news

  • Tomar decisões políticas mal informadas

  • Desvalorizar o contraditório e o pensamento crítico

Segundo a socióloga Shoshana Zuboff, vivemos em uma era de capitalismo de vigilância, onde nossos dados são coletados, vendidos e usados para prever e influenciar comportamentos — inclusive eleitorais.

Conceitos sociológicos importantes

Nesta aula, trabalhamos com três conceitos fundamentais:

  • Bolhas informacionais: zonas de conforto digital: 

As bolhas informacionais são formadas quando os algoritmos das redes sociais e das plataformas digitais personalizam excessivamente os conteúdos com base em nossos gostos, curtidas e interações. Isso cria uma espécie de “zona de conforto digital”, na qual somos expostos quase exclusivamente a opiniões que reforçam nossas crenças, valores e preferências, enquanto visões diferentes ou críticas são filtradas ou invisibilizadas.

Essa lógica contribui para o isolamento ideológico e a radicalização de opiniões, dificultando o debate democrático e a convivência com a diversidade de pensamento. As bolhas reduzem a complexidade do mundo social, criando uma falsa sensação de unanimidade e certeza. Para o Enem, esse conceito pode ser relacionado à reflexão crítica sobre o papel das tecnologias na formação da opinião pública e no exercício da cidadania.
  • Manipulação simbólica: uso seletivo de signos e discursos para influenciar consciências:

A manipulação simbólica é um conceito associado ao sociólogo Pierre Bourdieu, que estudou como os símbolos, discursos e representações são utilizados por grupos dominantes para moldar a percepção da realidade. Ao selecionar e divulgar certos signos (palavras, imagens, símbolos) de forma estratégica, é possível influenciar consciências, legitimar desigualdades e sustentar relações de poder.

Por exemplo, a forma como a mídia apresenta uma greve pode usar signos que geram empatia (“trabalhadores lutam por seus direitos”) ou repulsa (“baderneiros atrapalham a ordem pública”), dependendo do interesse envolvido. Bourdieu chama atenção para o "poder simbólico", ou seja, a capacidade de impor uma visão de mundo como se fosse natural, neutra e legítima, quando na verdade ela é construída socialmente.

Na redação do Enem, esse conceito pode ajudar a discutir como a linguagem é usada para manipular opiniões, especialmente em contextos de fake news ou discursos de ódio.

  • Cultura da pós-verdadequando os fatos perdem importância

O termo pós-verdade ganhou destaque em 2016, quando foi eleito palavra do ano pelo Oxford Dictionary. Segundo a definição, trata-se de contextos em que os fatos objetivos têm menos influência sobre a opinião pública do que crenças pessoais e emoções. Em outras palavras, não importa se algo é verdadeiro, mas sim se a informação reforça o que o indivíduo quer acreditar.

Filósofos como Byung-Chul Han e Zygmunt Bauman exploraram esse fenômeno. Para Han, vivemos uma crise da verdade causada pelo excesso de informação e pela fragilidade do pensamento crítico. Bauman, por sua vez, apontava que, na "modernidade líquida", as verdades absolutas cedem lugar a narrativas fragmentadas e subjetivas, o que favorece o crescimento do populismo e da desinformação.

Na cultura da pós-verdade, fatos são relativizados e a objetividade perde espaço para o impacto emocional. Esse contexto favorece a disseminação de fake news, discursos anticientíficos e o fortalecimento de líderes carismáticos que apelam às emoções em vez de argumentos racionais.

Atividade de reflexão

Leia duas reportagens sobre o mesmo fato, publicadas por veículos diferentes. Compare títulos, linguagem, foco da narrativa e imagens.
Como os recortes editoriais influenciam sua interpretação?

Essa prática ajuda a desenvolver o pensamento crítico e a sair da bolha!

Para o ENEM: onde esse tema pode aparecer?

Esse conteúdo é excelente para abordar temas como:

  • Liberdade de expressão vs. manipulação informacional

  • Cidadania digital

  • Polarização e intolerância nas redes

  • Cultura da pós-verdade e fake news

  • Responsabilidade social das plataformas digitais

Esse é o tipo de repertório que fortalece argumentos em redações e questões interdisciplinares, e mostra domínio dos desafios da vida em sociedade, ponto chave nas Competências 2 e 3 da redação do ENEM.

No próximo post, vamos analisar como esses debates podem ser aplicados em uma proposta de redação estilo ENEM, com textos motivadores e modelo comentado.

Continue acompanhando o blog Sociologia no ENEM para transformar o blog em espaço de estudo e reflexão crítica!


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