29 maio, 2025

📣"Ponha-se no seu lugar": Autoritarismo à brasileira?

 


A recente declaração do senador Marcos Rogério, ao dizer à ministra Marina Silva "ponha-se no seu lugar", repercutiu amplamente na sociedade brasileira. Essa expressão, carregada de conotações autoritárias e discriminatórias, remete a estruturas hierárquicas profundamente enraizadas na cultura do país.

O jornalista Matheus Leitão, em artigo publicado na revista Veja, destaca que a frase "ponha-se no seu lugar" é um "triste clássico no Brasil", associada ao preconceito, racismo, machismo e ao "mandonismo" . Leitão argumenta que essa expressão carrega séculos de dominação e violência, sendo um reflexo do racismo estrutural e do machismo presentes na sociedade brasileira.

Para compreender melhor essa dinâmica, é pertinente recorrer à obra do antropólogo Roberto DaMatta, Você sabe com quem está falando? Estudos sobre o autoritarismo brasileiro. DaMatta analisa como expressões autoritárias, como "você sabe com quem está falando?", refletem uma sociedade marcada por hierarquias e relações pessoais que se sobrepõem às leis e normas impessoais . Segundo o autor, essa mentalidade autoritária é um obstáculo ao pleno desenvolvimento da democracia no país.

A fala do senador exemplifica essa dinâmica, ao tentar "colocar no seu lugar" uma mulher negra em posição de poder, refletindo a resistência de setores conservadores à ascensão de grupos historicamente marginalizados. Essa atitude evidencia as barreiras enfrentadas por mulheres negras na política brasileira e reforça a exclusão desses grupos dos espaços de poder.

A reação institucional e social ao caso, incluindo o repúdio de outras senadoras e da Procuradoria Especial da Mulher do Senado, indica uma crescente conscientização e intolerância frente a manifestações discriminatórias. Isso sugere uma mudança gradual na percepção e na tolerância a atitudes preconceituosas, apontando para a necessidade contínua de vigilância e ação contra o racismo e o machismo na política e na sociedade em geral.

Em suma, a análise de Leitão, quando relacionada aos estudos de DaMatta, evidencia como discursos autoritários e hierarquizantes persistem na cultura política brasileira, desafiando os princípios de igualdade e impessoalidade fundamentais à democracia. A compreensão e o enfrentamento dessas estruturas são essenciais para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária.

Saiba mais:

Esse tema pode ser abordado no ENEM de diversas maneiras, especialmente na prova de Ciências Humanas e Suas Tecnologias e na Redação. A seguir, explico como:

Na prova objetiva (Ciências Humanas):

Temas recorrentes:

  • Autoritarismo e democracia no Brasil

  • Estruturas sociais e desigualdade

  • Racismo estrutural

  • Gênero e participação política

  • Cultura política brasileira

Como pode aparecer:

  • Questões sobre a obra de Roberto DaMatta e o conceito de autoritarismo à brasileira;

  • Interpretação de textos sobre desigualdade de gênero e raça;

  • Análise crítica de situações que envolvem preconceito e exclusão social;

  • Relação entre cultura política e manutenção de hierarquias sociais.

Habilidades desenvolvidas:

  • Identificar mecanismos de dominação e opressão;

  • Analisar o papel das instituições na promoção ou combate à desigualdade;

  • Relacionar fatos sociais com teorias sociológicas.

2. Na Redação:

Possíveis temas relacionados:

  • O desafio da representatividade política no Brasil

  • Os impactos do racismo estrutural na sociedade brasileira

  • A importância do combate ao machismo e ao autoritarismo nas instituições públicas

  • A superação de barreiras sociais e históricas para a efetivação da democracia

Como usar essa análise:

  • Citar a obra de Roberto DaMatta como repertório sociocultural legitimado;

  • Referenciar o episódio envolvendo a ministra Marina Silva como exemplo atual e pertinente;

  • Discutir o papel da sociedade e do Estado no enfrentamento das desigualdades estruturais.

Proposta de intervenção:

  • Fortalecimento de políticas públicas de combate ao racismo e ao machismo;

  • Promoção de campanhas educativas sobre igualdade de gênero e raça;

  • Garantia da presença de grupos historicamente excluídos nos espaços de poder.

3. Competências desenvolvidas:

  • Competência 5 (Redação): elaborar proposta de intervenção com respeito aos direitos humanos;

  • Competência 2 (Redação): mobilizar repertório sociocultural produtivo;

  • Competência 6 (Humanas): interpretar diferentes formas de manifestação do preconceito e da desigualdade.

Dica final: Esse é um excelente exemplo para mostrar que Sociologia não é só teoria: é ferramenta crítica para entender e transformar a realidade!

Quer mandar bem no ENEM? Vem estudar comigo! 

Se você quer entender de verdade os temas que caem na prova, aprender de um jeito fácil e conectado com a realidade, e ainda garantir aquela nota incrível, chegou a hora! Vou te ajudar a desvendar os conteúdos, trocar ideias e preparar redação com exemplos que fazem toda a diferença.

Não importa se você está começando agora ou já está na reta final: juntos, vamos transformar seu estudo em resultado! 

Bora conquistar essa aprovação? Envie um e-mail para o sociologianoenem@gmail.com e vamos juntos rumo à vitória no ENEM!


Observação da autora:

Como negra, mulher e professora, manifesto aqui o meu mais profundo repúdio à postura do senador Marcos Rogério. Sua fala evidencia não apenas uma tentativa de desqualificação pessoal, mas também a reprodução de estruturas autoritárias, racistas e machistas que historicamente têm excluído mulheres negras dos espaços de poder. Expresso, assim, toda a minha solidariedade à ministra Marina Silva, mulher de trajetória admirável, cuja presença e resistência são fundamentais para a construção de uma sociedade mais justa, democrática e igualitária. 

23 maio, 2025

Entenda as Cotas Raciais e o Papel das Comissões de Heteroidentificação


Se você está se preparando para ingressar no ensino superior por meio das cotas raciais, é fundamental compreender dois conceitos centrais nas relações raciais brasileiras: o preconceito de marca e o preconceito de origem. Esses conceitos, desenvolvidos pelo sociólogo brasileiro Oracy Nogueira, ajudam a entender como o racismo se manifesta em diferentes sociedades e justificam a existência das comissões de heteroidentificação no Brasil.

Preconceito de Marca e Preconceito de Origem

  • Preconceito de marca: Predominante no Brasil, refere-se à discriminação baseada em características físicas visíveis, como cor da pele, traços faciais e textura do cabelo. Nesse tipo de preconceito, a aparência é o principal fator de julgamento, independentemente da origem ou ancestralidade do indivíduo.

  • Preconceito de origem: Mais comum nos Estados Unidos, está relacionado à ancestralidade do indivíduo. Aqui, a discriminação ocorre com base na origem étnica ou racial, independentemente das características físicas aparentes. Por exemplo, uma pessoa pode ser considerada negra e, portanto, sofrer discriminação, mesmo que tenha aparência branca, se tiver ascendência africana.

O Papel das Comissões de Heteroidentificação

No contexto das cotas raciais no Brasil, a autodeclaração étnico-racial é o primeiro passo para concorrer às vagas reservadas. No entanto, para evitar fraudes e garantir que as políticas de ação afirmativa beneficiem efetivamente os grupos historicamente discriminados, foram criadas as comissões de heteroidentificação.

Essas comissões são formadas por membros da comunidade acadêmica e têm a missão de verificar se a autodeclaração do candidato corresponde às características fenotípicas associadas ao grupo racial declarado. A avaliação é baseada exclusivamente em aspectos visuais, como cor da pele, traços faciais e textura do cabelo, alinhando-se ao conceito de preconceito de marca.

É importante ressaltar que o processo de heteroidentificação visa assegurar a equidade e a justiça no acesso às políticas públicas de inclusão, reconhecendo as especificidades do racismo brasileiro.

Dicas para Candidatos Cotistas

  • Autodeclaração: Se você se identifica como preto, pardo ou indígena e atende aos critérios das cotas, faça sua autodeclaração com responsabilidade e consciência.

  • Documentação: Prepare todos os documentos exigidos para comprovar sua condição de cotista, incluindo histórico escolar, comprovante de renda e, se necessário, documentos adicionais solicitados pela instituição.

  • Comissão de Heteroidentificação: Esteja preparado para participar da avaliação fenotípica, se for convocado. Mantenha a tranquilidade e responda às perguntas com sinceridade.

  • Informação: Informe-se sobre os critérios e procedimentos específicos da instituição para a qual está se candidatando, pois podem haver variações nos processos de heteroidentificação.

Compreender as nuances do preconceito de marca e o funcionamento das comissões de heteroidentificação é essencial para navegar com segurança e confiança no processo de ingresso por cotas raciais no ensino superior brasileiro. Essas políticas são instrumentos importantes na promoção da igualdade e da justiça social, reconhecendo e valorizando a diversidade étnico-racial do país.

Quer saber mais?

Acesse o artigo completo da Conexão UFRJ sobre as comissões de heteroidentificação:

Boa sorte na sua jornada acadêmica!

22 abril, 2025

Descobrimento ou Invasão do Brasil? Uma reflexão sociológica essencial para o Enem.

Desembarque de Pedro Alvares Cabral em Porto Seguro em 1500, Oscar Pereira da Silva  (Foto: José Rosael-Hélio Nobre-Museu Paulista da USP/Reprodução) 


A tradicional narrativa do "descobrimento do Brasil" por Pedro Álvares Cabral em 1500 tem sido amplamente questionada por historiadores e sociólogos. A perspectiva eurocêntrica, que ignora a presença de milhões de indígenas no território, está sendo substituída por uma visão mais crítica, que reconhece a chegada dos portugueses como uma invasão. Este debate é fundamental para uma compreensão sociológica da formação do Brasil e é relevante para os estudantes que se preparam para o Enem.

Eurocentrismo e Invisibilização dos Povos Originários

A ideia de "descobrimento" pressupõe que as terras brasileiras eram desabitadas ou desconhecidas, desconsiderando a rica diversidade cultural e social dos povos indígenas que aqui viviam há milênios. Essa visão eurocêntrica marginaliza as culturas originárias e legitima a dominação colonial. A sociologia crítica busca desconstruir essa narrativa, promovendo uma reinterpretação da história que valorize a perspectiva dos povos indígenas.

Colonização e Violência Estrutural

A chegada dos portugueses deu início a um processo de colonização marcado por violência, exploração e imposição cultural. A escravização de indígenas e africanos, a expropriação de terras e a destruição de culturas são exemplos de violência estrutural que moldaram a sociedade brasileira. Essas práticas estabeleceram bases para desigualdades sociais persistentes até hoje.

Identidade Nacional e Memória Coletiva

A forma como a história é contada influencia a identidade nacional e a memória coletiva. Ao questionar a narrativa do "descobrimento", abre-se espaço para reconhecer as contribuições e resistências dos povos indígenas e afrodescendentes na formação do Brasil. Essa reinterpretação histórica é essencial para construir uma sociedade mais justa e inclusiva.

Implicações para o Enem

O Enem valoriza a capacidade de análise crítica e interdisciplinar. Questões relacionadas à colonização, identidade nacional e desigualdades sociais são frequentes. Compreender o debate entre "descobrimento" e "invasão" permite aos estudantes articular conhecimentos de sociologia, história e geografia, enriquecendo suas respostas e redações.

Reavaliar a chegada dos portugueses ao Brasil como uma invasão, e não um descobrimento, é um passo importante para compreender as raízes das desigualdades sociais e culturais do país. Essa análise sociológica é fundamental para os estudantes que buscam não apenas sucesso no Enem, mas também uma compreensão mais profunda da sociedade brasileira.

Para aprofundar seus estudos, acesse o artigo completo do Guia do Estudante: Descobrimento ou invasão do Brasil: o que é preciso saber para as provas.

A temática do “descobrimento ou invasão do Brasil” pode ser abordada no Enem de diversas maneiras, tanto na redação quanto nas questões objetivas, especialmente nas áreas de Ciências Humanas e Linguagens.

1. Redação: Análise Crítica da Colonização

Embora o tema da redação do Enem 2024 tenha sido “Desafios para a valorização da herança africana no Brasil”, a discussão sobre o “descobrimento” ou “invasão” do Brasil pode surgir em futuras propostas, incentivando os candidatos a refletirem sobre:

  • A perspectiva eurocêntrica da história brasileira e suas implicações na construção da identidade nacional.

  • As consequências da colonização para os povos indígenas, incluindo a perda de territórios, culturas e vidas.

  • A importância de reconhecer e valorizar as narrativas dos povos originários na formação do Brasil contemporâneo.

Ao abordar esse tema, os candidatos devem apresentar argumentos bem fundamentados, demonstrando compreensão histórica e sensibilidade social.

2. Questões Objetivas: Interdisciplinaridade e Contextualização

Nas questões objetivas, o Enem pode explorar essa temática por meio de:

  • História: Análise dos processos de colonização, resistência indígena e impactos socioculturais da chegada dos portugueses.

  • Sociologia: Discussão sobre etnocentrismo, construção da identidade nacional e exclusão social dos povos originários.

  • Geografia: Estudo das transformações territoriais e ambientais decorrentes da colonização.

  • Linguagens: Interpretação de textos literários e não literários que retratam a visão indígena sobre a colonização.

Essas abordagens permitem que os candidatos demonstrem habilidades de análise crítica, interpretação de textos e compreensão dos processos históricos e sociais.

3. Repertório Sociocultural: Ampliação da Argumentação

Para enriquecer as respostas, os candidatos podem utilizar repertórios como:

  • Obras literárias: “Iracema” de José de Alencar, que aborda a relação entre indígenas e colonizadores.

  • Documentários e filmes: Produções que retratam a história e a cultura dos povos indígenas no Brasil.

  • Legislação: Leis que reconhecem os direitos dos povos indígenas e promovem a valorização de suas culturas.

Esses elementos demonstram uma compreensão ampla e contextualizada do tema, alinhada às competências exigidas pelo Enem.

A temática do “descobrimento ou invasão do Brasil” oferece uma rica oportunidade para análises críticas no Enem, permitindo que os candidatos reflitam sobre a formação histórica do país, as injustiças sociais e a importância de valorizar as diversas culturas que compõem a identidade brasileira.

Para aprofundar seus estudos, recomendo assistir ao vídeo Brasil Colônia | Resumo de História do Brasil para o Enem, que oferece uma visão abrangente sobre o período colonial e suas implicações.

21 abril, 2025

Tiradentes como símbolo: construção da identidade nacional

 


Pintura que retrata Tiradentes um pouco antes de ser morto por enforcamento - obra pintada por Aurélio de Figueiredo na década de 1890.

Letra (trecho) – Exaltação a Tiradentes:

"Joaquim José da Silva Xavier
Morreu a vinte e um de abril
Pela independência do Brasil
Foi traído e não traiu jamais

A Inconfidência de Minas Gerais
Foi traído e não traiu jamais
A Inconfidência de Minas Gerais

Joaquim José da Silva Xavier
Era o nome de Tiradentes
Foi sacrificado pela nossa liberdade
Esse grande herói 
Pra sempre deve ser lembrado"

Análise Sociológica

1. Movimento Social e Inconfidência Mineira

A Inconfidência Mineira foi um movimento de caráter elitista, protagonizado por membros da elite intelectual e econômica da Capitania de Minas Gerais no final do século XVIII. Inspirados pelos ideais do Iluminismo e pela Revolução Americana, os inconfidentes buscavam a independência do Brasil em relação à Coroa Portuguesa, sobretudo contra os altos impostos (como a derrama).

Do ponto de vista da Sociologia dos Movimentos Sociais, pode-se enquadrar a Inconfidência como um movimento de resistência de elites locais que se sentiam lesadas pela metrópole. Não foi um movimento de massas, mas sim restrito a uma camada ilustrada e economicamente privilegiada da sociedade colonial.

2. Tiradentes como símbolo: construção da identidade nacional

Apesar de ter sido um entre vários inconfidentes, Tiradentes foi transformado, especialmente no século XIX e no início da República, em símbolo da luta pela liberdade.

Isso revela o conceito sociológico de construção de símbolos nacionais. A exaltação de Tiradentes, como na música de Mano Décio da Viola, Penteado e Estanislau Silva , cumpre o papel de formar uma identidade coletiva e de criar heróis nacionais capazes de inspirar o povo com valores como a liberdade, a coragem e a resistência.

Essa construção simbólica é também um instrumento ideológico, no sentido de naturalizar certas narrativas históricas e silenciar outras. A figura de Tiradentes é representada com características cristãs (cabelos longos, barba, expressão serena), como se fosse uma espécie de "Cristo patriota".

3. Classes sociais e contradições

Embora Tiradentes fosse alferes (um cargo militar de baixa patente), muitos dos inconfidentes eram senhores de escravizados. Isso revela uma profunda contradição do movimento: reivindicava liberdade para si, mas mantinha outros em cativeiro.

A luta por liberdade nesse contexto estava limitada às elites coloniais, sem incluir a maioria da população: escravizados, indígenas, mulheres e camadas populares. Isso permite uma crítica sociológica importante sobre a natureza excludente dos projetos de independência no Brasil.

4. Ideologia e memória social

A música "Exaltação a Tiradentes" é um produto da Era Vargas, período em que o Estado buscava criar heróis nacionais para reforçar a unidade e a identidade brasileira.

Usando o conceito de ideologia de autores como Louis Althusser ou Antonio Gramsci, podemos afirmar que essa exaltação opera como um instrumento do Estado para formar consenso, criando uma narrativa heroica que legitima a ordem social e política vigente.

A partir da música, podemos entender que:

  • Tiradentes foi transformado em mito fundador da Nação;

  • A Inconfidência Mineira foi um movimento de elite, com contradições entre liberdade e escravidão;

  • A construção da memória de Tiradentes é um exemplo de como a história pode ser reinterpretada segundo interesses políticos e ideológicos.

Para aprofundar seus estudos, acesse o artigo completo do National Geografic: Quem foi Tiradentes? Os 4 dados sobre o homem símbolo da Inconfidência Mineira

COMO O TEMA PODE CAIR NO ENEM

1. Questões de História ou Sociologia

O ENEM pode cobrar:

  • A natureza elitista do movimento e sua inspiração nos ideais iluministas;

  • As contradições entre o discurso de liberdade e a manutenção da escravidão;

  • O uso político da imagem de Tiradentes, especialmente na República;

  • A formação da identidade nacional a partir de figuras simbólicas.

    Exemplo de questão no estilo ENEM:

Texto 1:
“Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, foi enforcado em 1792 por participar da Inconfidência Mineira, movimento que pretendia a independência de Minas Gerais do domínio português. Anos mais tarde, foi transformado em herói da pátria e mártir da liberdade.”

Texto 2:
"Durante o Estado Novo (1937-1945), o governo Vargas promoveu a figura de Tiradentes como símbolo de resistência, equiparando-o a Jesus Cristo, com barba longa, cabelos soltos e expressão serena."

Com base nos textos e nos conhecimentos de Sociologia e História, a promoção da imagem de Tiradentes no século XX teve como objetivo:

a) Promover a religião como base da identidade nacional.
b) Justificar o autoritarismo do período colonial.
c) Enaltecer a monarquia como forma legítima de governo.
d) Criar um símbolo unificador que legitimasse a nova ordem republicana. ✅
e) Representar os movimentos populares da periferia.

A alternativa D é correta porque o Estado Novo usou Tiradentes como símbolo da luta contra a opressão, criando uma imagem de herói nacional que ajudasse a consolidar a identidade brasileira e legitimar a república. Essa prática está relacionada ao conceito de memória coletiva e de ideologia, pois constrói uma narrativa funcional ao projeto de poder. 

2. Referência na Redação

Tiradentes pode ser citado como exemplo de:

  • Resistência a sistemas opressores;

  • Liderança em movimentos sociais;

  • Formação simbólica da identidade brasileira;

  • Memória e uso político da história.

Exemplo de uso como repertório sociocultural:

Se o tema da redação for “O apagamento de vozes na construção da história do Brasil”, você pode escrever:

“Enquanto a figura de Tiradentes foi amplamente exaltada como símbolo da liberdade, outros sujeitos históricos, como indígenas, mulheres e pessoas escravizadas que também resistiram ao colonialismo, foram silenciados. Isso reflete o que Michel Foucault chama de ‘regimes de verdade’, em que apenas algumas narrativas são legitimadas pelo poder.”

DICAS PARA O ENEM

  • Relacione Tiradentes à ideia de mito político e à construção da memória nacional;

  • Questione a ausência das classes populares nos movimentos por liberdade;

  • Use conceitos como ideologia, hegemonia, classe social, resistência, memória e identidade coletiva.


19 abril, 2025

19 de Abril – Dia dos Povos Indígenas: o que o ENEM tem a ver com isso?

 




19 de Abril – Dia dos Povos Indígenas: o que o ENEM tem a ver com isso?

No dia 19 de abril, celebramos o Dia dos Povos Indígenas — uma data que convida à reflexão sobre os direitos, as culturas e as lutas dos primeiros habitantes deste território chamado Brasil. Mais do que um feriado simbólico, é um momento para pensar sobre resistência, diversidade e justiça social.

E se você pensa que isso não cai no ENEM… pense de novo! Vamos analisar juntos uma questão da prova de Ciências Humanas de 2017 que trata justamente do tema:

ENEM 2017 — Questão 50 (Ciências Humanas) (Prova Azul)

Os direitos indígenas estão reconhecidos na Constituição Federal de 1988, que garante a essas populações o direito originário sobre as terras que tradicionalmente ocupam. Essa garantia tem sido essencial para a sobrevivência cultural, social e física dos povos indígenas no Brasil.

Essa garantia está relacionada à:

A) urbanização das aldeias.
B) exploração econômica da terra.
C) integração com a sociedade nacional.
D) expansão das terras agriculturáveis.
E) preservação da diversidade étnica.


Vamos entender?

A alternativa correta é a letra E: preservação da diversidade étnica. Mas por quê?

Quando a Constituição de 1988 reconhece os povos indígenas como sujeitos de direitos originários sobre suas terras, ela não está apenas garantindo território — está reconhecendo a importância de manter vivas suas culturas, línguas, crenças e modos de vida.

Para os povos indígenas, a terra é mais do que produção: é identidade.
Ela sustenta sua cosmovisão, seu modo de se relacionar com a natureza, de educar os mais jovens, de celebrar a vida e de resistir à opressão.


O que isso tem a ver com Sociologia?

Tudo! A Sociologia se dedica a entender a sociedade em sua diversidade, e isso inclui valorizar os grupos historicamente marginalizados, como os povos indígenas. Essa questão do ENEM dialoga com temas como:

  • Cidadania e direitos humanos

  • Identidade étnica e cultural

  • Conflitos fundiários e justiça social

  • Diversidade e pluralidade cultural

Autores como Stuart Hall e Boaventura de Sousa Santos nos ajudam a compreender que reconhecer os saberes e direitos dos povos indígenas é fundamental para uma sociedade verdadeiramente democrática e plural.


Por que isso importa hoje?

Mesmo com os direitos garantidos na Constituição, os povos indígenas seguem enfrentando:

  • Invasões de seus territórios;

  • Pressão do agronegócio e da mineração;

  • Violência e preconceito;

  • Negação do direito à educação diferenciada e à saúde indígena.

Por isso, o 19 de abril é também um lembrete de luta e resistência.


Dica para a redação

Esse tema pode aparecer em propostas que discutam:

  • Direitos coletivos;

  • Preservação de culturas tradicionais;

  • Conflitos no campo;

  • Diversidade cultural.

Saber usar termos como territorialidade, etnocentrismo, pluralismo cultural e direitos originários pode enriquecer muito sua argumentação!


Curtiu? Compartilha com a galera e deixa aqui nos comentários qual tema você quer ver no próximo post!

18 abril, 2025

AULA 03 - Émile Durkheim


Émile Durkheim 

Émile Durkheim (1858-1917), um dos fundadores da Sociologia como ciência, dedicou-se a estudar como a sociedade se mantém unida e como a ordem social é preservada. Em suas obras "As Regras do Método Sociológico" (1895) e "Da Divisão do Trabalho Social" (1893), Durkheim apresentou conceitos essenciais para a compreensão das estruturas sociais, como fatos sociais, solidariedade mecânica e solidariedade orgânica. Durkheim acreditava que a sociedade funciona como um organismo vivo, onde cada parte exerce uma função essencial para o funcionamento do todo. Assim como órgãos trabalham juntos para manter um corpo saudável, as instituições sociais (como família, escola, religião e Estado) garantem a coesão e a ordem social.


Os Fatos Sociais
Para Durkheim, um fato social é toda forma de agir, pensar e sentir que é externa ao indivíduo e que exerce sobre ele um poder coercitivo. Esses fatos são caracterizados por serem:

  1. Exteriores: Estão fora da consciência individual e são impostos pela sociedade.

  2. Coercitivos: Influenciam e controlam nossas ações, mesmo que não percebamos.

  3. Gerais: São comuns a um grupo, manifestando-se em toda a sociedade

Segundo Durkheim, os fatos sociais são maneiras de agir, pensar e sentir que exercem uma coerção externa sobre os indivíduos e são independentes de suas vontades. Esses fenômenos coletivos moldam comportamentos e normas sociais, garantindo a ordem e a previsibilidade nas relações humanas. Exemplos de fatos sociais incluem normas morais, leis, costumes, crenças religiosas e até mesmo a língua que falamos. No Brasil, um exemplo de fato social é o Carnaval, uma celebração tradicional que, além de reforçar elementos culturais e identitários, define comportamentos coletivos, normas de conduta e até períodos de recesso escolar e laboral. Outro exemplo é o uso obrigatório de máscaras durante a pandemia de COVID-19, que se tornou uma norma coletiva capaz de exercer coerção sobre os indivíduos para preservar a saúde pública.


A Coesão Social
Durkheim estudou como a coesão social é construída e mantida. Ele identificou dois tipos principais de solidariedade:

  • Solidariedade Mecânica: Presente em sociedades tradicionais e simples, onde os indivíduos compartilham crenças e valores semelhantes, e a consciência coletiva é muito forte. A coesão ocorre pela semelhança entre os membros.

  • Solidariedade Orgânica: Característica das sociedades modernas e complexas, onde há uma divisão do trabalho mais especializada. A coesão social ocorre pela interdependência entre os indivíduos, que desempenham funções diferentes, mas complementares.

Em "Da Divisão do Trabalho Social", ele descreve que a solidariedade mecânica ocorre em sociedades tradicionais e simples, onde a coesão social se baseia na semelhança entre os indivíduos. As pessoas compartilham crenças, valores e costumes comuns, com pouca ou nenhuma divisão do trabalho. No Brasil, traços dessa solidariedade ainda podem ser observados em comunidades indígenas e quilombolas, onde o senso de pertencimento, a identidade cultural e os valores comunitários garantem a integração social.

Em contraste, a solidariedade orgânica caracteriza sociedades modernas e complexas, onde a interdependência entre indivíduos surge pela especialização e pela divisão do trabalho. Nesses contextos, a coesão é garantida não pela semelhança, mas pela necessidade de cooperação e complementaridade das funções sociais. No Brasil urbano e industrializado, um exemplo claro é o sistema de transporte público nas grandes cidades, que depende de motoristas, cobradores, engenheiros, gestores e outros profissionais para funcionar. A interdependência entre esses papéis reforça a solidariedade social, pois cada função é essencial para o bem-estar coletivo.


A Anomia

O termo anomia é central na obra de Durkheim e aparece especialmente em "Da Divisão do Trabalho Social" e "O Suicídio". Para ele, a anomia ocorre quando há um enfraquecimento ou ausência de normas sociais claras, o que gera um estado de desorientação e falta de referências morais para o indivíduo. Esse fenômeno surge especialmente em momentos de rápidas transformações econômicas, sociais ou políticas, onde a sociedade não consegue fornecer um senso de orientação e pertencimento. No Brasil, por exemplo, a crise econômica severa onde a perda de empregos e a instabilidade financeira afetam a estrutura social, pessoas que antes tinham uma posição estável passam a enfrentar dificuldades e um sentimento de desamparo, pois as regras e expectativas sociais não parecem mais garantir segurança ou reconhecimento. E também, a violência urbana e a desigualdade social podem ser analisadas sob essa perspectiva, pois frequentemente levam ao enfraquecimento das regras coletivas e ao aumento de comportamentos destrutivos.


A relação entre Anomia e Suicídio

Durkheim identificou que a anomia é um fator determinante para um tipo específico de suicídio, o suicídio anômico. Esse tipo ocorre quando há uma desregulação social e o indivíduo perde a capacidade de se orientar pelas normas coletivas. Em situações de crise econômica ou mudanças abruptas, como uma súbita ascensão ou queda de status social, as expectativas se tornam confusas e frustradas, levando alguns indivíduos a buscar o suicídio como uma saída.


Os Tipos de Suicídio segundo Durkheim

Durkheim classificou o suicídio em quatro tipos, baseados nos níveis de integração e regulação social:

  1. Suicídio Egoísta:

    • Ocorre quando o indivíduo está insuficientemente integrado à sociedade, sentindo-se isolado e sem laços sociais significativos. Exemplo: Idosos solitários ou pessoas que vivem afastadas de vínculos afetivos e comunitários.

  2. Suicídio Altruísta:

    • Resulta de uma integração social excessiva, onde a identidade individual se dissolve em prol do coletivo. Exemplo: Membros de seitas religiosas que praticam suicídio em grupo ou soldados que morrem em combate com um forte senso de dever.

  3. Suicídio Anômico:

    • Decorrente de um estado de desregulação social, onde normas e valores perdem a força e deixam o indivíduo sem um guia moral. Exemplo: Pessoas que, após uma crise econômica, perderam subitamente riqueza ou status e não conseguem se adaptar.

  4. Suicídio Fatalista:

    • Acontece quando a regulação social é extremamente rígida e o indivíduo se sente sem esperança de mudança ou liberdade. Exemplo: Prisioneiros que, diante de uma vida de repressão extrema, optam pelo suicídio.


A Importância de Durkheim para a Sociologia
Durkheim mostrou que a sociedade é mais que a soma dos indivíduos e que os comportamentos sociais podem ser explicados por fenômenos coletivos. Seu trabalho ajuda a entender a importância das normas e instituições para a estabilidade social e como a falta de coesão pode gerar problemas como o aumento da criminalidade e o sentimento de anomia (ausência de normas).

Durkheim nos ensina que, para compreender a sociedade, devemos analisar os fatos sociais de maneira objetiva, investigando suas causas e efeitos. Seu legado continua relevante para entender os desafios sociais do mundo contemporâneo e a importância de valores e normas que promovam a coesão social.


O tema "Émile Durkheim, coesão social e fatos sociais" pode aparecer na prova e na redação do ENEM de diferentes formas:


1. Na Prova de Ciências Humanas e suas Tecnologias:
O ENEM costuma cobrar conceitos sociológicos, especialmente os clássicos, como Durkheim, Marx e Weber, em questões que relacionam teoria e realidade social. Exemplos de abordagens:

  • Fatos Sociais: Questões que pedem para identificar ou analisar um fato social no cotidiano brasileiro, como normas de convivência, leis, cultura e redes sociais.

  • Anomia: Questões que abordam problemas sociais como violência, exclusão ou crises econômicas, pedindo uma análise sob a ótica da anomia durkheimiana.

  • Solidariedade Mecânica e Orgânica: Questões que diferenciam sociedades tradicionais e modernas, destacando as formas de coesão social e divisão do trabalho.

  • Educação e Coesão Social: Questões que analisam o papel da educação na formação de cidadãos e na manutenção da ordem social.

Exemplo de Questão ENEM:
"Em uma sociedade moderna caracterizada pela divisão do trabalho, a coesão social se estabelece pela interdependência entre os indivíduos, conforme a teoria de Durkheim. Essa forma de solidariedade é chamada de:
a) Mecânica
b) Orgânica
c) Espontânea
d) Coercitiva
e) Voluntária"

Gabarito: (b) Orgânica


Veja esta questão retirada do ENEM 2016 (questão 32):

"A sociologia ainda não ultrapassou a era das construções e das sínteses filosóficas (...) Não é com exames sumários e por meio de intuições rápidas que se pode chegar a descobrir as leis de uma realidade tão complexa."

Gabarito: D) adesão aos padrões de investigação típicos das ciências naturais.

A questão cobra a compreensão da proposta metodológica de Durkheim: aplicar um método empírico e objetivo ao estudo da sociedade, como se faz nas ciências naturais.


2. Na Redação do ENEM:
O ENEM exige que o candidato desenvolva um texto dissertativo-argumentativo com proposta de intervenção social. O tema de Durkheim pode surgir de forma direta ou indireta, especialmente ao abordar temas de ordem social e comportamental. Exemplos de temas de redação inspirados em Durkheim:

  1. O desafio da coesão social em tempos de individualismo.

  2. A influência dos fatos sociais na construção de identidades juvenis.

  3. Os impactos da anomia no aumento da violência urbana no Brasil.

  4. A importância da educação na formação de cidadãos conscientes.

  5. Redes sociais e a nova forma de controle social na contemporaneidade.

Como usar Durkheim na Redação:

  • Introdução: Conceitue fato social ou coesão social para contextualizar o tema.

  • Desenvolvimento: Aplique o conceito de anomia ou solidariedade para explicar problemas sociais.

  • Proposta de Intervenção: Sugira ações educativas, políticas públicas ou estratégias de fortalecimento comunitário para promover a coesão social.

Exemplo :
"A ausência de normas claras e o enfraquecimento das instituições sociais contribuem para o aumento da violência e do sentimento de desamparo social no Brasil, caracterizando um estado de anomia, conforme a teoria de Durkheim."


Proposta de Redação - ENEM

Tema: O Desafio da Coesão Social no Brasil Contemporâneo


Texto 1:
“A sociedade só pode existir se houver entre seus membros um mínimo de semelhança, e, no entanto, não pode se manter se não houver diferenças.”  — Émile Durkheim


Texto 2:
A crescente desigualdade social, a violência urbana e a fragmentação cultural desafiam a coesão social no Brasil. Em um contexto marcado pela diversidade e por problemas estruturais, assegurar a unidade social e o respeito às diferenças é um desafio constante.


Texto 3:
Em sociedades modernas, a interdependência entre indivíduos é fundamental para a manutenção da ordem social. Contudo, crises econômicas, políticas e sociais geram um estado de desorientação e enfraquecimento das normas coletivas, caracterizando um fenômeno que Durkheim chamou de "anomia".


Instruções:
Com base nos textos motivadores e nos conhecimentos adquiridos ao longo de sua formação, redija um texto dissertativo-argumentativo, em norma culta da língua portuguesa, sobre o tema "O Desafio da Coesão Social no Brasil Contemporâneo". Apresente uma tese, desenvolva argumentos e proponha uma intervenção social que respeite os direitos humanos.





Bem-vindo (a) ao Blog Sociologia no Enem!

Bem-vindo ao Blog Sociologia no Enem!  Olá, estudantes e entusiastas da Sociologia! Se você está se preparando para o Enem e quer se aprofun...